A história do nerd Jacinto Pinto

Posted by Gustavo Aguiar On domingo, 21 de março de 2010 1 comentários


Hoje vou contar para vocês, meus caros amigos e leitores ocasionais, a triste história de um verme habitante de uma metrópole meio conturbada para a vivência de seu pobre e moribundo ser.

Esse desastroso personagem era exatamente o que todos nos dias atuais chamam de nerd, isto é, propenso a uma perigosíssima doença psicológica que põe em risco a vida social da pessoa e ironicamente sua inteligência genuína, transformando-a em um computador ambulante capaz de armazenar uma quantidade espantosa de informações distorcidas pelo ensino porco da atualidade juntamente ao Sistema de alienação massiva. Seu nome? Jacinto Pinto, a escória humana pisoteada diariamente pelos valentões de peitos largos do colégio, obrigado a pagar lanche para eles na hora do recreio se quisesse ver sua pequena cabecinha triangular em cima do pescoço que mais aparentava um palito de dente sufocando o nítido pomo de adão que subia e descia com frequência.

Jacinto era tudo de ruim (não pense que essa história vá terminar igual ao patinho feio), tinha todas as doenças que você pode imaginar somadas à fobia social e o medo, horror, repúdio por mulheres. Se bem que elas nunca o deram atenção suficiente para que um desejo maior fosse despertado nele. Não tinha amigos confidentes, não tinha um carro como a maioria dos jovens de sua idade, estava sempre pensando além dessas coisas.

Uma vez o visinho Fred estava lendo quadrinhos na varanda de sua casa quando do nada ouviu uma espécie de motor bem incomum assobiando um barulho esquisito que nenhum automóvel jamais fez. O pai de Fred era mecânico, e não obstante o filho tinha um conhecimento hereditário no assunto. Ficou curioso e foi checar o que era, e quando chegou na grade adornada por caracóis delgados de aço preto, se viu literalmente no meio de uma selva atrás dos ornamentos abstratos do portão, porque logo soube que o que vira naquele dia jamais seria esquecido por ele. Jacinto se via dentro de uma nave espacial testando o motor, tampado pelo visor reluzente de cristal sintético brilhando feito diamante sob o sol, Fred meio que visualizou a silhueta do rapaz dentro da coisa colossal que ultrapassava uns quatro metros o telhado da residência.

E permaneceu ali paralisado pela coisa de asas redobráveis tentando pensar como um jovenzinho besta de meia tigela construiria algo assim de maneira aparentemente tão simples. Quando o assobio mecânico do motor foi desligado, correu como um louco de volta para sua casa e se atirou na cama ignorando os quadrinhos na varanda, porque o que ele viu no quintal de um visinho que por tantos anos parecia tão normal e inofensivo criou uma espécie de inibição em sua cabeça para com histórias de ficção científica. Ele nunca mais assistiu a um filme em sua vida, nem leu mais nada até que os anos foram deixados para trás e o transformaram num velho traumatizado, com medo de ler qualquer história que trouxesse naves espaciais assobiando visualmente pelas onomatopéias.

Teve aquele agente imobiliário também, que ao fechar negócio com os pais de Jacinto sobre a casa a qual estavam comprando na tranqüila e arborizada avenida perdeu o emprego e consequentemente a vida depois de ver o que viu. O pobre coitado saiu mais fulo que égua manca após se deparar com um espaço cheio de estrelas tremeluzentes e planetas coloridos ao puxar a maldita maçaneta que dava para o quarto de Jacinto.

Como a família havia parcelado o preço da casa, haviam morado nela por um bom tempo antes de concluir o pagamento, então fizeram algumas modificações, sendo elas troca dos papéis de paredes, pintura nova, ladrilhos e boxes para os banheiros...

Jacinto fez de seu quarto um ambiente espacial, inserindo estrelas moldadas por uma fôrma de picolés que havia ganhado na infância pelos tios e criou sistemas de iluminação similares aos de pisca-pisca em cada estrelinha que obteve com metal derretido.

Fez uma porção de orbes com cartolina dobrada e os sitiou com anéis de argolas de plástico e o resultado foi nada mais nada menos que planetas perfeitos. Ao fundo, na parede, colou pôsteres de tanto modelo de nave espacial que o quarto ficou parecendo mesmo o universo como cenário de uma odisséia cósmica, mas espere, ainda não acabou! No vértice inferior direito do esquema do quarto que terminava no rodapé, além de traçar parcialmente a borda do globo terrestre, conseguiu complementá-lo com um panorama 3D e pintar a América anglo-saxônica contornada por néons verdes de diversas tonalidades, e a frase “venha para cá” escrita em vermelho.

Instalou sistemas de ar condicionados de maneira estratégica para o visitante sugar o friozinho pelas narinas com um certo excesso que fazia qualquer um passar mal. Debaixo do assoalho montou um gerador de energia eólica para que o visitante se sentisse, mesmo com os pés no chão, flutuando na imensa rede espacial que só se tornou tão imensa porque surgiu de um recinto microscópico caindo aos pedaços. Era o efeito da gravidade.

Agora imagine como o agente imobiliário se sentiu ao se deparar com essa loucura toda. Pediu demissão no dia seguinte e nunca mais quis visitar seus parentes pais de filhos intelectuais, o que envolvia 2/3 de sua família. Todos o desconsideraram pela ausência familiar em festas e comemorações e ele morreu sozinho de ataque cardíaco, com a cabeça enfiada na privada.

Como você deve ter percebido, a figura do nerd como esta tem se afirmado nos dias atuais com todo esse desenvolvimento tecnológico é uma ameaça crítica para todos, porque além de sua capacidade absurda de criar o inimaginável dentro dos parâmetros sociais ao qual estamos acostumados, são seres extradimensionais se apossando de humanos para criar através deles um mundo supermoderno ao qual sua raça mais tarde desfrutará como alguma espécie de laboratório. Porra, que hipótese nerd! Claro que estou brincando! Jacinto era doente como citei no início do texto, cabeção.

Bom, aqui nos despedimos de Jacinto Pinto, esse personagem ridículo, que a propósito morreu assassinado por um primitivista fanático a tiros no umbral da porta da casa, sob os pés de seus chorosos pais.

1 comentários:

Anônimo disse...

O ser enqto ser e sua contingências...nota milllllllll... Ieu, Pe. Rubirtin...

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