Solidão

Posted by Gustavo Aguiar On domingo, 11 de abril de 2010 0 comentários


Quando olho ao redor já não vejo os amigos que via antigamente ao meu lado à minha inteira disposição. Não posso afirmar que algum dia já os tive de verdade porque muitos dos supostos amigos que nos circulam estão ao mesmo tempo elaborando macetes maquiavélicos para nos derrubar no outro dia, quando tiverem o apoio necessário para nos abater com precisão. E além do mais, o mundo é uma esfera que nos prende na ilusão de que sempre teremos alguém para recorrer ou mesmo derramar lágrimas de tristezas sobre seu peito quando mais precisarmos. O próprio mundo é um orbe banhado de agonia, e relativamente um chuveiro vomitando a água da mentira em cima dos que nele se situam com uma noção distorcida do que é o “viver intensamente”, o tão irrefutável e aproveitador modo de vida que todos adotam como o ponto crucial de um relacionamento. Mas estão enganados, todos eles. Como somos criaturas asquerosas e desprezíveis para a nossa própria geração, temos de passar pela mais inexplicável experiência de nos adaptar a um estilo de vida que varia de tempo em tempo.

Deus é um menininho terno ouvindo música enquanto destrói seu playmobil sem a mínima sobriedade de consciência, trocando constantemente os discos na medida em que vão terminando suas faixas. E por que não chamarmos de Deus esse ser superior ao qual somos tão gratos por respirarmos naturalmente durante em média cem anos e caminharmos num lugar tão amável quanto esse planeta de gorilas modernos? As pessoas gostam de dar nome aos bois, então vamos dar nome àquele genitor que provavelmente está pouco de lixando para o que acontece a seus originários. E estamos tão preocupados com ele que deixamos de enxergar a nossa própria realidade, de fazer coisas para mudar essa realidade injusta. Não, em vez de nos mexermos nos mantemos parasitas de nós mesmos, encapsulados num aquário lacrado que já começa a transbordar e estamos pedindo a Deus por cada um dos nossos atos, atos que nunca são feitos porque Deus se recusa a respondê-los em sua onipotência. As pessoas salientam símbolos que terminam por escravizá-las, assim acontece com o jogo de viver ao qual pensamos estar fazendo o melhor, enquanto na verdade cagamos numa latrina isolada da razão.

As pessoas precisam dos símbolos para ser felizes, e os símbolos precisam de sua admissão para escravizá-las, a qual concedem com todo o prazer. Ignorância já! A pior ignorância de que sem conhecimento, a ignorância de um louco masoquista se mutilando dentro de um asilo, sofrendo o inferno pelas suas próprias mãos e ao mesmo tempo satisfazendo uma necessidade doentia.

A verdade é que não temos amigos. Nenhum de nós. O que temos são pessoas mascaradas participando de um baile à mercê da tão temida Morte, como no conto de Allan Poe. Todos usam máscaras, ninguém é real no que se diz respeito à sinceridade e ninguém está disposto a se revelar com medo de uma quebra na organização já estabelecida de uma sociedade. Quem se arriscar, quem revelar seu caráter genuíno, este que as indústrias, máquinas e uma mecanização cerebral não pôde corromper, pode ser banido de seu amado e costumeiro meio de mentirosos.

O homem que vence a própria época deixando a máscara cair de seu rosto está fadado a se libertar, mesmo longe dos amigos que exigiam dele atitudes voltadas para a moda, e é justamente esse distanciamento de outras pessoas que mostra ao ser humano o limiar da liberdade fora do sítio social, a solidão, para que ele seja capaz de conhecer a si mesmo. Devemos ter cuidado com nossos inimigos, mas precisamos dobrar esse cuidado quando se trata daqueles que se dizem nossos amigos, para fingirmos como que numa peça teatral dispormos de uma confiança paralela a eles.

Não existem amigos, existe uma rede de convivência que conecta unidades para diversos fins, como a estrutura principal de um microchip. Todos são pretensiosos, ninguém é irmão um do outro porque a religião e a moda assim estabeleceram e dividiram.

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