Desmascarando os vigilantes

Posted by Gustavo Aguiar On sábado, 19 de junho de 2010 2 comentários


Sempre fui leitor assíduo de histórias em quadrinho desde que me entendo por gente, e como todo fã da nona arte dotado de ao menos um pouco de visão crítica tenho me decepcionado muito com o rumo que a coisa tomou a partir do instante em que os super-heróis passaram a monopolizar o comércio e ditar costumes a serem seguidos na vida de todos os seus leitores.

Os quadrinhos se tornaram um veículo de alienação tão perigoso quanto à televisão. Hoje em dia pode-se dizer que a única segurança de se manter uma mente sã evolucionária está nos livros. Nos livros certos.

Vivemos moldados pela nossa época, limitados a um modelo de vida que nos transmite a falsa ideia de poder para esconder a certeza de que não portamos de fato esse poder, somos iludidos por uma razão carregada de inutilidade que está nos deixando cada vez mais débeis, impedindo que cresçamos conforme devemos crescer.

Pode-se dizer que levamos uma vida inteiramente artificial e sem propósito algum senão o de apenas viver e morrer como cobaias em fase de experimento, prestes a ser descartadas, porque não são nossos valores individuais os responsáveis pela nossa formação, mas influências externas dirigidas pelo império através da indústria.

As duas principais concorrentes que colocam o lucro na frente da qualidade são Marvel e DC comics, empresas americanas que se digladiam para ganhar dinheiro às custas de seus super-heróis em revistas extremamente caras que todos lutam para comprar a vida inteira devido à eterna continuação dos arcos. Os leitores (nerds em sua maioria) ficam presos nessa forma de consumo e morrem todos com seus egos inflados por almejarem as proezas de seus adorados super-humanos.

Não existe variedade nas aventuras de heróis. Existe uma única opção que se multiplicou para tomar o lugar da procriação artística e fazer com que lucrem em cima de artistas talentosos, tendo toda a originalidade barrada por um padrão de brigas aleatórias, um jogo de super-socos trocados por personagens com corpos de pugilistas que elimina a transmissão de qualquer tipo de conhecimento. Enchem as aventuras com tecnologia e experimentos científicos para fazerem o leitor pensar que está lendo alguma coisa inteligente, enquanto na realidade é a sua inteligência que está sendo sugada por esse amontoado de mentiras.

Me falaram uma vez que cultura pop não é conhecimento, e eu assino em baixo. Como os quadrinhos atuais são grandes contribuintes para a adoração dessa cultura mais voltada para o público jovem (por ser facilmente manipulado pela ótica teen), é um meio de envolver as pessoas com o consumo abusivo e à lavagem cerebral decorrente da falta de conhecimento, fazendo-o buscar desesperadamente adequações físicas e mentais para conviver com a micharia da sociedade.

Os heróis se repetem a um mesmo paradigma, estão presos numa mesma linha de raciocínio a qual não conseguem fugir e é tudo com o que estão nos entretendo: com nada. São os principais regentes do capitalismo, manipulam opiniões e reações em troca da manutenção de um dos maiores pilares da cultura pop.

Sofremos graves crises de atraso mental quando passamos a desejar o que esses deuses mascarados têm de incomum para parecermos melhores do que somos. O segredo está justamente nessa entrelinha: Os heróis são divindades adaptadas à sociedade em que vivemos para se tornarem arquétipos, aproximando assim suas características das características humanas e fazer com que todos queiram chegar o mais perto possível de se parecer com eles, desde o aperfeiçoamento físico à vantagem sobre-humana que pensamos ter em relação aos outros, mas na realidade continuamos os mesmos, cada vez mais imersos na burrice e tendo isso como vantagem.

Segundo os quadrinhos, heróis são herdeiros de proezas pertencentes a antigos deuses, portadores de um grande privilégio, o que tendemos a buscar por ser próprio do ser humano a fraqueza de se basear em divindades ou seres mais evoluídos que ele. Desde os primórdios o homem foi fiel a seus criadores, assim como a forças que estão além da sua compreensão ou de seu domínio.


Não se controla a busca pela aproximação do ídolo, queremos mostrar que somos como eles, que temos uma suposta personalidade por estar escolhendo algo que ninguém perto de nós escolheu para seguir, e por isso nos consideramos originais dentro do meio em que vivemos, não por uma personificação que desenvolvemos, mas por uma que a indústria nos obrigou a imitar para iludir-nos com a falsa originalidade.

Outro perigo de se basear nos vigilantes mascarados é a contração da tendência patriota que todos eles têm em comum, que é o que realmente faz deles vigilantes, o amor pelas suas pátrias, disposição para morrer por elas se for preciso e manter a ordem, o que já está estabelecido. “Ignoramos mudanças, estamos focalizados no que já existe e vamos lutar por isso, somos eternos escravos em uma dimensão psicológica da qual não temos conhecimento, e estamos felizes assim”. É o que querem que pensemos e façamos sem pestanejar. Manter as coisas como elas já estão para que nossos líderes não tenham problemas com anarquia e desordem.

Os heróis participaram de todas as grandes guerras da história, se alistaram no exército ou foram obrigados a estar lá diversas vezes, ou seja, influenciam pessoas do mundo inteiro a amar seu país e estarem aptos a defendê-lo quando seus reforços forem solicitados pelo governo. São deuses humanos vivendo em prol de seus governantes e influenciando toda uma geração a fazer igual, a amarem o império inconscientemente.

A indústria de quadrinhos empresta toda sua munição para Hollywood, e ambas lucram paralela e absurdamente em cima do que chamam de fazer arte. Alan Moore, um dos maiores nomes dos quadrinhos, criticou as duas. Os quadrinhos por estarem em decadência e terem perdido toda a qualidade que tinham antes do monopólio dos super-heróis sobrepor a variedade artística e atrofiar a todos como arquétipo, e Hollywood por portar um poder aquisitivo que poderia estar acabando com vários conflitos pelo mundo. É muito poder nas mãos de poucos, poder adquirido por intermédio da triste e dura esterilização artística.

Todos têm medo do novo, do sobrenatural, de tudo aquilo que está além da lógica restrita. Os deuses em geral são retratados com a aparência humana ou de animais, eles precisam ser naturais para não parecerem assustadores a olhos nus, para não levarem seus seguidores à loucura do incompreensível. No caso dos super-heróis, são naturalmente humanos para induzir em seus leitores comportamentos que favorecem os princípios imperialistas, como a questão do patriotismo a qual tratamos.

É perigoso pensar que somos alguém dentro da sociedade, que temos peso na história ou geramos influência para várias pessoas juntas, porque esse falso senso de grandeza, embora pareça funcionar dentro dos nossos objetivos, nos prende automaticamente no círculo vicioso da hierarquia, nos torna submissos a processos iguais a esses que pensamos dominar.

Até os governadores hoje em dia dependem de uma força superior, não existe um ápice para a pirâmide hierárquica se analisada em um espectro mais amplo. O Sistema alcançou tal nível de monstruosidade que chegou no ponto de depender da interação de seus órgãos para agir.

Nenhum homem ou órgão administrativo desse mundo tem poder suficiente para fazer o que bem entender, só no universo dos super-heróis.

2 comentários:

Yuri disse...

Pô cara, parabéns. Seu blog tá muito doido. Continue escrevendo!

Gagas de Brechó disse...

hey, adorei os seus incentivos no meu blog... kero q todos conheçam GAGAS DE BRECHÓ!!!
vlw mesmo mano

abraço

obs: continue escrevendo, ñ importa o tamanho, apenas escreva

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