Panorama universal

Posted by Gustavo Aguiar On domingo, 27 de junho de 2010 0 comentários

Posso vê-los todos, todos eles, festejando, bebendo vinho em transbordantes canecas esqueléticas,
Todos eles, os filhos do mundo, os pais do caos.
Impressionante ver como são esguios em forma quando vistos de perto,
Como se prendem numa caixa de horrores,
Festins disfarçados, a fantasiosa desgraça das trevas de um abismo,
Enquanto pensam estarem livres no paraíso.
Livres para voar com velhas e incandescentes ninfas sob o luar.

Do universo magistral já não os enxergo como gigantes, entre as estrelas seculares,
Aqui nada é tão grande quanto o frio da solidão, gélido-efervescente.
Posso ver os planetas, e eles estão todos gritando,
Apavorados.

Lá em baixo, insetos desesperados imersos no refluxo de uma decadência,
São os deuses do nada, que a nada temem senão a própria sombra.
Luzes e trevas, a corrida da alma maculada pela oscilação,
Oscilação que traz a carruagem vinda de um inferno sem brasas,
Fumaça, fumaça, onde está ela? O cavaleiro perde as rédeas de seu cavalo flamejante,
E está caído entre os mortos.

Todos festejam, todos bebericam o vinho transbordante em canecas esqueléticas,
Veja, veja! A terra gorgoleja! Estão vindo as erupções!
Raios mordem os asfaltos, como deuses furiosos resvalando, sem amparo.
São insetos varridos, varridos,
Varridos pela natureza.

Todos morrem, um por um, sob o céu cinzento de uma outra época,
Que agora retorna para julgar seus filhos,
Nas penumbras de uma realidade frustrada pelo fracasso.
Todos tombam,
É o fim.

Olhe daqui: lembra como eram grandes e esbeltos os insetos?
Lembra como cresciam, presos na caixa de horror a qual tanto aproveitavam?
Engraçado como, vendo daqui de cima, eles possam ser vomitados dos seios de seu próprio lar,
Exauridos pelos recursos aos quais desfrutaram como ratos quando em vida.

Agora veja daqui, entre estrelas, meteoros, cometas e todo o extraordinário jogo de luzes que se desenrola do escuro,
Veja além da órbita, além das fronteiras atmosféricas,
Além de tudo do que é palpável ou digno de ambição,
Além do solo gorgolejante e da tortuosa presença de parasitas,
Como eles parecem tão pequenos e insignificantes.

Por que os deuses estão dançando?
Por que lágrimas de sangue formam pantáculos exatos no espaço?
Acho que porque todos os insetos eram deuses,
E a vida não passava de uma dura e enfadonha piada mal contada.

0 comentários:

Postar um comentário

Vomite aí.