Mundo mecânico

Posted by Gustavo Aguiar On quinta-feira, 18 de março de 2010 0 comentários


Hoje acordei meio irritado, com raiva do mundo.

Quando você começa a ver determinadas coisas que ninguém mais vê além de você, impulsionado pela maravilhosa proeza que é o interesse, você começa a enxergar um mundo transfigurado, as cortinas se separando para dar início ao espetáculo, a redoma do relógio de parede se abrindo revelando todas as engrenagens e mecanismos padronizados para exercer a função debaixo do que a olho nu parece ser tão simples... Então vem a irritação. Irritação pelo mundo que vemos funcionar sem saber quais são suas engrenagens, você dorme num dia e acorda o mesmo no dia seguinte buscando sempre o tédio e o regresso. Irritação pelo conhecimento da inutilidade que é a busca do ser humano pelo nada eterno. Quem é você afinal? O que você quer?

Filósofos afirmam que o que você come é irreal, psicólogos te analisam e da noite para o dia desvendam uma série de patologias contidas na sua cabeça. Sua maior doença te prende numa caixa de sapato jogando restos de alimento para você sobreviver desde que seja uma formiga ortodoxa disposta a aceitar o que quer que seja veiculado através da propaganda.

Nascemos homens e mulheres, mas nos tornamos com o passar do tempo uma porção de máquinas de xérox reproduzindo tudo o que é original, pois durante a vida inteira somos movidos pelo que os outros pensam e ignoramos a nossa própria capacidade de pensar, logo, não pensamos. Somos eternas sementes atrofiadas incapazes de germinar, infindáveis aspirantes do desconhecimento. Estamos longe de conhecermos a nós mesmos.

E o que somos além de robôs explorados por uma carga horária absurda para comermos o pão de cada dia? Aparentemente temos uma democracia, mas o aparente foi encaixado nos nossos rabos como se fossem modems piscando sem parar, e aceitamos tudo como se fossem as mil maravilhas.

Somos tão presos às nossas rotinas e cegos pela pressão excessiva a qual sofremos que simplesmente temos medo de combatê-los, somos máquinas ignorantes suprindo nosso real objetivo com o objetivo que outros têm às nossas custas. Não somos nada. Nada para nós mesmos.

Saio às ruas e o que vejo são máquinas transitando pela cidade, como nos filmes de ficção científica. O carteiro de bicicleta joga o jornal sobre a cerca do vizinho e ele ricocheteia na grama. O vizinho sai para apanhá-lo depois de um curto período de tempo, após saborear o delicioso café da manhã com pães e granolas no leite fresco, enquanto essa reação estereotipada se repete em praticamente todos os cantos do planeta Terra onde há organizações civis.

O nerd obeso se senta atrás da televisão com uma barra de chocolate Nestlé e aos poucos vai mordiscando, sentindo a serotonina escorregando pelo cérebro e engordando cada vez mais, porque o consumo é atribuído majoritariamente aos anti-sociais de baixo auto-estima, que como não têm o que fazer, buscam refúgio nas compras.

Pobres jovenzinhos se dizem donos de personalidades próprias quando se adentram em grupos que só aumentam o grau de domínio das indústrias sobre eles. Começam a se vestir como dita a moda e perdem o direito sobre o próprio modo de enxergar as coisas, perdem o propósito no mundo.

O futebol está criando pessoas burras e alienadas sem a menor noção do que estão fazendo no mundo, ao passo que marcas estão sendo vendidas através do mesmo.

Esse é o nosso mundo mecanizado, nosso relógio lacrado nas bordas e enquanto alguns de nós são os números, outros são as engrenagens. E sobretudo os ponteiros indicam os poderosos, e o idiota que fez esse mundo de vermes descerebrados é a cobertura invisível por cima das nuvens, além do nosso alcance.

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